sábado, 4 de fevereiro de 2012

Brasil e México devem optar por solução duradoura

 

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Felipe Calderón e Dilma Rousseff
Li que o presidente do México, Felipe Calderón, telefonou nesta sexta-feira para a presidente Dilma Rousseff assim que soube que o governo brasileiro anunciou que poderia romper o seu acordo automotivo com o México. Na conversa, os chefes de Estado optaram por voltar à mesa de negociação. Em pauta, um maior equilíbrio no intercâmbio comercial. Atualmente, o Brasil tem um déficit de cerca de US$ 1,7 bilhão com o México.

A questão mexicana é mais um exemplo dos impasses de nossa política comercial externa e da integração sul e latino-americana - a exemplo dos impasses com nossa vizinha Argentina - que temos tratado aqui no Blog. Não podemos simplesmente mudar as regras do jogo quando o comércio com um país se torna deficitário para nós.

Quando era superavitário aceitamos o acordo de bom grado. Foi o que alegou Calderón. Enquanto o Brasil tinha um superávit comercial na balança automotiva com o seu parceiro, o México não rompeu o acordo. Ao que tudo indica, a intenção do Brasil de fazê-lo estaria em linha com as medidas protecionistas anunciadas em setembro, de elevar a taxação dos carros importados e levar as montadoras a produzirem no Brasil.

A lógica das montadoras


Isto porque as principais montadoras do Brasil têm fábrica no México e trazem de lá veículos sem pagar Imposto de Importação. Quando o acordo automotivo bilateral foi firmado, as montadoras definiram uma estratégia coordenada de produção entre as fábricas do Brasil e México. Na origem, optaram por não produzir no México o que produziriam no Brasil e vice-versa. No entanto, hoje, é mais interessante a elas produzir no México: o câmbio nos desfavorece. Mas não é só. Os mexicanos estão “mui cerca de los Estados Unidos”. E de seu mercado. Assim, como há fábricas do lado de lá da fronteira norte-americano, corremos o risco de que seus produtos sejam exportados para o Brasil sem pagar imposto, via México.

O assunto, de fato, é complexo. A questão da indústria automobilística se encaixa perfeitamente no que comentávamos esses dias: as multinacionais integram os mercados acima dos Estados e governos, segundo seus interesses. Foi o que se deu com a produção de autopeças e veículos, distribuída entre Brasil, Argentina e México, conforme as vantagens comparativas.

A importância do diálogo entre chefes de governo

Agora, com a decisão do Brasil de aumentar o IPI para bloquear uma invasão chinesa de nosso mercado, as importações do México e da Argentina dispararam e a única medida que tomamos foi a de suspendermos as vantagens concedidas ao México. Evidentemente, a medida, em si, não contribui em nada para a solução da questão e ainda expõe a imagem do Brasil.

Daí a importância do diálogo entre nossa presidenta e Felipe Calderón e da busca de soluções duradoras e permanentes. O importante é recolocar a integração e a defesa comercial do continente latino-americano em outros termos, de mais integração e de mais comércio. É bom que os presidentes e os Estados assumam as negociações e recoloquem a integração no interesse não apenas das empresas, mas das nações e países.

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

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